Storytelling não muda o mundo, mas as pessoas sim

Storytelling não muda o mundo, mas as pessoas sim

Já dissemos por aqui que storytelling é uma ferramenta de mudança, pois nos permite alterar os rumos de uma história e causar impacto. Há diversas formas de construir uma narrativa, e o storytelling é uma delas. Mas e na prática, será que o impacto de determinada história é o mesmo do que quando a lemos ou a ouvimos pela primeira vez?

Um festival com muito storytelling
No início de setembro acompanhamos o Festival SGB – Social Good Brasil 2018, onde vimos o storytelling acontecer das mais diferentes maneiras. Fosse por um elemento ou outro (ou todos!) do Mapa da Narrativa trabalhado numa apresentação, fosse pela forma de falar com a plateia, fosse na hora de encantar e motivar o público a partir para a ação… enfim, vimos de tudo um pouco.

Mas se teve algo que o Festival levou a sério e manteve durante os dois dias do evento, foi o questionamento principal: “Na era das tecnologias exponenciais, o que é ser humano?”, tema proposto pela Narrative.

Como líder do movimento Data for Good no Brasil, o qual promove o uso e a análise de tecnologias e ciência de dados para estimular as pessoas em prol de um mundo melhor, pode-se dizer que eles não só utilizaram uma estratégia de storytelling como mostraram que é possível ir além dela.

Basicamente, no Mapa da Narrativa, construído pelo nosso mentor de narrativas Olavo Pereira Oliveira, são 4 os pontos-chave para uma narrativa de sucesso: empatia, conflito, virada e clímax.

Nas palestras do Festival, observamos que todos escolheram muito bem como contar suas breves histórias e conseguiram, de alguma forma, gerar impacto no público. A pergunta que fica é: esse impacto saiu do plano imaginário?

Storytelling para mudar o mundo

A ideia é que uma história não só encante, mas, ao motivar as pessoas, as ajude também a sair de um estado meramente participativo e do modo ouvinte. É quase como pegar e colocar aquela história que comoveu nas mãos de alguém. É uma chamada para a ação. No Social Good Brasil 2018, vimos isso acontecer principalmente pela voz do mestre de cerimônias Edgard Gouveia Jr.

“Histórias nos ajudam a sonhar, mas não são mágicas, pois depende de nós ter um plano efetivo de justiça e fazer um mundo melhor” (Sisonke Msimang)

Vejamos como exemplo o grupo de surdos que estava presente no Social Good Brasil. Edgard, sempre simpático, os chamou ao palco e contou que, ali, no Festival, eles estavam em 17 pessoas. E que não bastaria que a história deles fosse traduzida pela intérprete no palco e que fizesse o público rir. Era preciso mais.

Para validar essa ideia, Edgard insistiu, com todo seu carisma, que as pessoas fossem até o grupo e as fizessem sentir realmente amadas; pediu que as abraçassem, que demonstrassem que elas estão ali e não são invisíveis. Em segundos, a movimentação aconteceu, em meio a risos. Fica aqui uma valiosa lição: é importante apresentar a história, sim – mas também fazer com que ela aconteça, pois há muito mais para ser aprendido com aqueles que não detêm o mesmo poder e espaço na sociedade que nós.

A ilusão da solidariedade

Nesse sentido, o storytelling pode ser um catalisador para que a mudança social ocorra. Mas, por si só, não é a leitura ou só ouvir uma boa história que fará a diferença.

Se não houver alguém que, impactado pelo que acabou de ler ou ouvir, tenha disposição de levantar e fazer algo em prol daquilo, ou vivenciar na pele o contexto do que acabou de ver, o cenário permanecerá o mesmo: floreado, sim, porque estaremos encantados, mas igualmente difícil para quem vive uma realidade tão diferente da nossa todos os dias.

Um ponto importante a ser observado, como diz Sisonke Msimang em seu primeiro TED Talks, é não deixar que as histórias criem uma ilusão de solidariedade.

Isso se fez muito claro enquanto Edgard falava no palco: ali, sentimo-nos todos solidários às dificuldades que os surdos enfrentam, ouvimos com atenção que eles querem ser reconhecidos, que eles querem ser amados. Mas a prática precisou de mais força. Ouvindo, a concordância e o balançar de cabeças foi geral. Mas quantos realmente levantaram da cadeira para abraçar o grupo minoritário e fazê-los se sentir um pouco mais queridos?

Assim como Diogo Guerreiro, que encerrou o Festival, Sisonke Msmimang também sugere que a gente se desconecte para poder se conectar. Isso significa que, embora a era da conectividade diminua distâncias e nos permita conhecer histórias inimagináveis, a verdadeira aproximação acaba ficando de lado, pois se comover e sentir empatia parece suficiente.

No fim, o que Sisonke e todos os demais participantes do Social Good Brasil realmente querem dizer, com suas narrativas tão bem feitas e um storytelling bem aplicado, é exatamente o que traz o título do TED Talks citado: se a história te move, aja!

Desligue o celular, saia do seu mundo particular, dê um tempo no online e adentre a realidade de outro alguém, doe o seu tempo e as suas capacidades, invista em projetos que te tocam, converse de fato, e descubra, da forma mais bonita possível, o significado de duas palavras que andam de mãos dadas com o storytelling: empatia e conexão.

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E você, como vem desenvolvendo esses elementos na sua narrativa? Se você não tem certeza se está aplicando tudo que realmente contribui para uma boa história, dê uma olhada no nosso ebook Os 5 princípios de uma boa narrativa.

E se o caso é palestrar, como o pessoal do Festival, que tal conferir o Guia do Palestrante das Galáxias? Ambos são gratuitos! ?

[Foto que ilustra o post por Fernando Willadino, tirada no Festival Social Good Brasil 2018].

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