The earth as a board
Throughout 2012, many calls will be made for a game that will bring a third of humanity together to change the world for the better – and it will be fun
“Abrace a primeira pessoa que você encontrar” é a mensagem que aparece no celular de um universitário quando ele sai da aula. Como o remetente é um colega que adora distribuir abraços por aí, ele aceita a proposta. No dia seguinte, pelo Facebook, outro amigo o convida para uma manifestação em defesa da Amazônia. Uma semana depois, a convocação é para limpar uma praça. Ele se lembra da ONG que trabalha com catadores de lixo e propõe uma parceria. Em todos os casos, o jovem viu nas ruas mais pessoas cumprindo as tarefas e, na internet, mensagens e fotos sobre os eventos.
Ele descobriu, então, que tudo era parte de um jogo mundial, que começava no contato virtual e ganhava a vida real. As ações somavam pontos e tinham a finalidade de fazer o bem para a comunidade.
Essa história ainda não aconteceu, mas é o objetivo do tal jogo, que está realmente em construção. Por trás da iniciativa está o santista Edgard Gouveia Júnior, que o chamou de “Play The Call”. “Eu sonhava em fazer algo que transformasse o mundo e unisse todos, de intelectuais e empresários a comunidades carentes. Percebi que, para ser atrativo, deveria ser divertido, porque, no fundo, ninguém quer se sacrificar e nem precisa ser um herói”, explica. Ser divertido, então, é uma das cinco regras do jogo – definidas como os “cinco efes”. Além de divertidas (fun), devem ser grátis (free), rápidas (fast), espetaculares (fantastic) e amigáveis (friendly).
O Play The Call não terá vencedores nem partida final, mas a meta é clara: em quatro anos, unir 2 bilhões de pessoas para construir um novo mundo, seguindo os princípios da Carta da Terra [1] . “Esse documento é o sonho de lugar em que queremos viver e achei ideal para ser nosso guia”, diz Edgard. A plataforma on-line provisória do jogo é playthecall.com.
Os jogadores realizarão tarefas e podem convocar mais participantes, até que tenham pontos suficientes para ir para a fase 2, para delegar ações. As tarefas devem ter ao menos três das cinco regras.
Edgard tem no currículo uma experiência em menor escala, mas serve de prova de que o Play The Call dará certo. Em 2009, liderou o projeto Oásis Santa Catarina, que reuniu universitários brasileiros nas cidades do Vale do Itajaí atingidas por inundações no ano anterior. Os jovens se articularam por um site e, depois, cerca de 600 foram a campo agir. Lá, reconstruíram espaços públicos e ajudaram a população a recuperar a autoestima. “Vi que o jogo poderia ser feito, porque há gente disposta a fazer o bem. Fizemos em cinco dias o que as autoridades não tinham feito em seis meses”, conta. (Confira no site tedxamazonia.com.br um vídeo em que Edgard conta sobre essa experiência).
Inspirado no Oásis SC, Edgard construiu o Play The Call com muitas mãos, durante a viagem de ano sabático que fez dois anos atrás. Espalhou a semente do jogo em países como Suécia, Índia, Nova Zelândia, Vietnã e Inglaterra, e sempre encontrou interessados e entusiastas. Ao longo de 2012, continuará levando a ideia, começando por palestras nos Estados Unidos, na Universidade Harvard. No Brasil, no fim de 2011, ele se reuniu com cerca de 200 pessoas em uma oficina de criação coletiva. De lá saiu a ideia de começar alguns protótipos este ano para testar e iniciar aos poucos as campanhas do Play The Call.
O primeiro teste será jogado pela rede Escoteiros do Brasil a partir de março, e finalizado durante a Rio+20. Até lá, 20 mil jovens vão receber 12 chamados com desafios de nível individual (por exemplo, como diminuir o volume de lixo descartado em casa) e coletivo. A tarefa final será construir casas ecológicas em cinco comunidades pobres da cidade do Rio de Janeiro.
Outra campanha-teste para todo o País começa em fevereiro com ações que serão colocadas no site e fomentadas no Facebook e no Twitter. Além disso, as ações que já têm três dos cinco efes podem ser relacionadas ao Play The Call nas redes sociais. Quem oferecer caronas, no Dia Mundial Sem Carro, por exemplo, pode divulgar como #PlayTheCall. “A ideia é ter movimentos para que, quando o jogo for lançado oficialmente, muitas pessoas já o conheçam”, diz Edgard.
O botão de “play” oficial tem data marcada para ser apertado: 21 de dezembro de 2012, propositalmente o dia das previsões apocalípticas para o fim do mundo. “Na noite do dia 20, vamos organizar festas em vários países para marcar o fim desse mundo que conhecemos e a celebração do novo, que começará e será o que sonhamos, construído com ajuda do jogo”.