“A brincadeira é a única maneira de mudar o mundo”, acredita especialista

“A brincadeira é a única maneira de mudar o mundo”, acredita especialista

A brincadeira é a única maneira de mudar o mundo e as crianças e os jovens podem ser as peças fundamentais para isso. Quem acredita nessa possibilidade é Edgard Gouveia Jr., arquiteto e urbanista brasileiro conhecido mundialmente por seus projetos de protagonismo juvenil que sempre apostam na máxima: precisam ser rápidos, divertidos e de graça. O último deles – de longe o mais ambicioso – é o Play The Call, game que será lançado no próximo dia 21 de dezembro, estrategicamente escolhido por ser o dia do suposto fim do fundo, e pretende mobilizar dois dos sete bilhões de pessoas no mundo nos próximos quatro anos.

“O Play The Call vai permitir que participantes do mundo todo se comuniquem e troquem experiências aprendendo uns com os outros, se incentivando mutuamente. Se você chama os amigos para trabalhar, fica difícil. Mas chamar para brincar é muito melhor”, diz Gouveia Jr., que é cofundador do Instituto Elos, Ashoka fellow e professor da Universidade Monte Serrat , em Santos, do YIP (Youth Initiative Program) e do MSLS(Master Sustainability Leadership) ambos na Suécia.

Como uma espécie de gincana on-line mundial, no jogo os competidores serão desafiados a realizar diferentes missões, que podem ir de ações simples às mais complexas, desde plantar uma árvore a reformar uma praça. Até pintar ruas e parques, limpar praias e rios, replantar florestas e cultivar a alegria e paz nas escolas. À medida que os desafios forem sendo cumpridos, os jogadores poderão compartilhá-los nas redes sociais através de textos, vídeos e imagens como forma de inspirar novas ações. “Só brincando somos capazes de voltar a ser crianças, nos desprender dos preconceitos e ativar o que há de melhor em nós mesmos para jogarmos juntos”, afirma Gouveia Jr..

Mas será que ele consegue? Há dois anos, ele vem angariando apoio a essa ideia, no mínimo, megalomaníaca, viajando o mundo criando redes colaborativas em torno do game em países como Suécia, Índia, Nova Zelândia, Vietnã e Inglaterra. Hoje ele já conta com uma rede sólida de pessoas e instituições que vão ajudá-lo a colocar o projeto pra frente como a rede dos Escoteiros do Brasil, organização que reúnem 70.000 filiados no país, rede de programadores do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). O projeto tem buscado também apoio de lideranças mundiais, apresentando sua proposta para grupos como o The Elders, que reúne nomes como o de Kofi Annan e Fernando Henrique Cardoso e começa agora a fazer uma campanha para tentar convencer Morgan Freeman a emprestar sua voz para o game.

Além disso, seu histórico de mobilização conta a seu favor. Gouveia Jr. também já levou, brincando, jovens do país inteiro para Santa Catarina, quando a região foi devastada por enchentes. Por meio do Oásis, game para universitários, ele reuniu em uma gincana, em 2009, 3.600 estudantes que, em um mês e meio, captaram recursos e reergueram praças, parquinhos de 12 comunidades, em seis cidades da região. A brincadeira se expandiu e mais 90 Oásis se espalharam pelo Brasil e pelo mundo.

Outro projeto do arquiteto é o Guerreiros sem Armas, programa que treina jovens para planejarem e executarem projetos locais (como a reforma de um espaço público ou de uma creche), sempre usando recursos e apoio de empresas e pessoas locais.

Para falar sobre como mudar o mundo brincando para pais e professores, Gouveia Jr. esteve, no último dia 1o , em São Paulo, em palestra, promovida pelo Colégio Itatiaia. Confira abaixo a entrevista que ele deu ao Porvir.

Os jovens estão se unindo mais para transformar o mundo?

Sim, eles estão se mobilizando mais para partilhar as tarefas. Chamam os colegas, os amigos, a família, os vizinhos. O que mais gostam e sabem fazer é o trabalho em grupo. Os jovens atuais têm uma maneira diferente, e mais eficaz, de promover mudanças. Saem de cena o sonho com uma grande revolução e a atitude confrontadora – que tanto marcaram gerações anteriores – e entram em voga o desejo de transformar a realidade próxima e o valor dado à colaboração.

Qual é a melhor forma de mudar o mundo e transformá-lo em um local mais pacífico e ideal para se viver?

Para mim uma das maneiras de se mudar o mundo é, sem dúvidas, por meio das brincadeiras. É importante incentivar as pessoas a promover mudanças expressivas agindo a partir da realidade social e concretizando seus próprios sonhos por meio de brincadeiras e jogos coletivos. Só brincando somos capazes de voltar a ser crianças, nos desprender dos preconceitos e ativar o que há de melhor em nós mesmos para jogarmos juntos. Se você chama os amigos para trabalhar, fica difícil. Mas chamar para brincar é muito melhor, né?

O que o projeto Play The Call tem de inovador em relação a outros jogos que reúnem pessoas em massa?

O Play The Call é um projeto que tem o objetivo de mobilizar dois bilhões de pessoas nos próximos anos. Como uma gincana on-line, o jogo traz diversas missões e é direcionado para crianças e jovens. Brincando de super-herói, o jogador terá desafios desde plantar árvores e mobilizar a família, amigos e vizinhos até reformar espaços públicos e ajudar comunidades em situações de calamidade. Na prática, o projeto funciona da seguinte forma: o jogo incentiva seus participantes a divulgarem na internet a realização de seus desafios, o que cria uma cadeia positiva, pois mostra aos demais jogadores que as metas estabelecidas podem ser cumpridas. Para mim é exatamente essa interatividade a grande novidade do game, já que ele permite que participantes do mundo todo se comuniquem e troquem experiências aprendendo uns com os outros e se incentivando mutuamente. O jogo está em fase final de desenvolvimento e deve ser lançado estrategicamente no dia 21 de dezembro.

O engajamento de uma grande parcela da população mundial para este jogo vem acontecendo de diversas formas como a realização de palestras por onde passo espalhando as “sementes” do projeto. O Play The Call surgiu durante uma viagem de ano sabático que fiz há dois anos. Já passei por lugares como Suécia, Índia, Nova Zelândia, Vietnã e Inglaterra, e sempre encontrei interessados e entusiastas que se engajaram no projeto. Em 2011, eu me reuni com cerca de 200 pessoas no Brasil em uma oficina de criação coletiva, de onde saíram alguns protótipos para serem testados na campanha este ano.

Na página do Facebook do projeto, vocês pedem o apoio do Morgan Freeman. Como ele irá ajudá-los?

Nós, do Play The Call, queremos que o ator e diretor Morgan Freeman narre o vídeo de abertura deste jogo global, afinal ele tem uma voz parecida com a “voz de Deus”. E uma das formas para alcançarmos nosso objetivo é contar com diversos compartilhamentos no Facebook para que a nossa intenção se espalhe o máximo que puder.

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