Solução caseira
Revista Galileu por Tatiana Silvestri Foto: Fabiano Accorsi
O Instituto Elos mostra o caminho das pedras para que comunidades carentes construam espaços públicos aproveitando mão-de-obra e materiais da região
Às vezes, a solução dos problemas está mais perto do que se imagina. Com recursos humanos e materiais disponíveis no próprio local, é possível mudar a realidade de comunidades degradadas como favelas, cortiços e vilas de pescadores. Essa é a ideia do Instituto Elos, organização não-governamental de Santos (SP), fundada em 2000 por jovens arquitetos e urbanistas.
“Nossa fórmula é simples: um sonho em comum, um curto espaço de tempo para realizar o que se almeja e um mutirão que esteja disposto a colocar a mão na massa”, afirma Edgard Gouveia Jr., presidente do Elos. Traduzindo isso para a prática: o Instituto reúne moradores de uma determinada comunidade e jovens empreendedores sociais para viabilizar projetos de interesse coletivo. O resultado são praças, creches, campos de futebol, playgrounds, hortas, jardins, centros culturais e até sistemas sustentáveis de purificação de água de esgoto e de coleta seletiva de lixo.
Tudo começa com a escolha da comunidade a ser apoiada. A prioridade do Elos são aquelas que apresentam uma urgência social e ambiental, que estejam esquecidas pela sociedade e distantes da atenção do Poder Público. Problemas como lixões a céu aberto, construções em locais de risco ou atingidas por enchentes contam pontos. Escolhida a comunidade, o primeiro contato entre o Elos e seus moradores envolve uma série de jogos e atividades lúdicas. O objetivo é identificar as necessidades e os talentos locais, além de despertar o senso de empreendedorismo e cooperativismo entre a população atendida.
Em um segundo momento, comunidade e jovens enumeram, discutem e propõem soluções para os problemas. Planejam a construção de espaços que promovam melhorias em termos educacionais, culturais, de saúde, higiene, conforto, segurança e lazer. Formando um mutirão, trabalham na construção do que foi idealizado. Em todo o processo, a comunidade é o principal – quase único – agente das mudanças sociais. Tudo é construído com recursos do próprio local. Pneus usados, madeiras, bambus, garrafas pet, pedras e até panelas velhas viram matéria-prima na execução de cada obra.
Espalhando a semente
Concluída essa etapa, o instituto oferece suporte e acompanhamento para que, aos poucos, a comunidade tenha autonomia na resolução de problemas locais e na mobilização comunitária. “O trabalho em mutirão nos trouxe um resultado rápido e vimos o que construímos com nossas próprias mãos. Nos demos conta de que somos capazes de mudar nossa realidade, de transformar sonhos em projetos reais, desde que estejamos unidos”, afirma Ronaldo Pereira, de 23 anos, um dos líderes comunitários da Vila Alemôa, em Santos. Declarações como essa demonstram outro objetivo do Elos: devolver a auto-estima e valorizar a cultura dos moradores.
E tudo o que é aprendido e desenvolvido não fica confinado à própria comunidade. O instituto realiza workshops para promover o intercâmbio de conhecimento, a implementação de novos projetos e a criação de redes sociais capazes de se articular com sociedade, prefeituras e outras ongs.
O Elos também investe na capacitação de jovens empreendedores com o programa Guerreiro sem Armas. Oferece curso de um mês para a formação de pessoal entre 18 e 35 anos. A ideia é que eles retornem às suas cidades munidos de técnicas eficientes para orientar e promover mutirões nas comunidades em que vivem.
Em dez anos de atuação, o Instituto Elos reúne mais de mil jovens empreendedores já formados. Eles colaboraram nas ações da entidade. Participam, por exemplo, em intervenções sociais em cerca de 20 comunidades do Sul e Sudeste do País e no desenvolvimento de metodologias que são disseminadas mundo afora.
Para este ano, a entidade investe todas as suas energias no Projeto Oásis Santa Catarina. A iniciativa pretende envolver 800 jovens de diferentes regiões do País e membros das comunidades na reconstrução de dez cidades do Estado, afetadas pelas enchentes em novembro passado. O movimento entra em ação em julho e conta com uma rede social que traz parceiros como o Instituto de Arquitetos do Brasil e Peace Child Brasil.